Falando de Cinema
E Tudo o Vento Levou, 1939
Atualmente visto nostalgicamente como uma relíquia de uma Hollywood há muito desaparecida, E Tudo o Vento Levou era ele próprio um retrato cor-de-rosa de uma época passada. O seu preâmbulo presta homenagem a uma América perdida, num hino ao Velho Sul: "Aqui, neste belo mundo, o galanteio fez a sua última vénia. Aqui foi a última vez que se viram cavalheiros e suas damas de honra, de senhores e escravos. Procurem-no apenas nos livros, pois não é mais do que um sonho recordado, uma civilização que se foi com o vento..." Em 1939, a América ainda estava a ressentir-se da pobreza da Grande Depressão, e o público foi arrebatado pela escala do filme, pelo romance e pela paleta de cores.
Adaptação épica
O que hoje é considerado um grande épico histórico foi uma obra de ficção de Margaret Mitchell, cujo best-seller História de Amor da Guerra Civil foi publicado pela primeira vez em 1936. Antes do final do ano, o produtor David O. Selznick comprometeu-se a fazer uma versão cinematográfica. Era uma tarefa gigantesca. O rascunho do guião durou seis horas e foram necessários quatro escritores para o editar. Diz-se que centenas de jovens participaram no casting para o papel da heroína, Scarlett O'Hara. Depois de esperar um ano pela disponibilidade do ator Clark Gable, Selznick despediu o realizador George Cukor apenas três semanas após o início das filmagens e substituiu-o por Victor Fleming.
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Gone With the Wind (Trailer)
Victor Fleming, 1939
Amor, perda e saudade
O filme é, no
fundo, um triângulo amoroso em grande
escala: Scarlett (Vivien Leigh) está
apaixonada por Ashley Wilkes (Leslie
Howard), que está noivo e vai casar-se com a
prima dele. No reatamento, ela chama a
atenção de Rhett Butler (Clark Gable). A
violência da guerra civil reflete
adequadamente o tortuoso caso de amor entre
Rhett e Scarlett, captado em deslumbrante
Technicolor pelo diretor de fotografia
Ernest Haller.
A representação do
filme, e a nostalgia aberta pela sociedade
escravocrata do Velho Sul, revela muitas
suposições questionáveis, mas algumas das
passagens mais abertamente racistas do
romance são simplesmente contornadas. Hattie
McDaniel, que interpretou a escrava
doméstica de Scarlett, Mammy, ganhou um dos
10 Óscares do filme – a primeira
afro-americana a ser distinguida.
Em
última análise, esta é a história de
Scarlett. Embora o filme termine com ela
sozinha, desfeita pelo seu próprio egoísmo,
é também uma metáfora da América como terra
de esperança e regeneração. A última frase
do filme pertence a Scarlett. "Vou para
casa", diz ela, pensando na sua casa em
Tara, na sua família e nas suas raízes,
"Afinal de contas... amanhã é um novo dia."
Vivien Leigh,
atriz
Nascida em
Darjeeling, na Índia, em
1913, Vivien Leigh
alcançou fama
internacional com E
Tudo o Vento Levou,
tornando-se a primeira
atriz britânica a ganhar
um Óscar de Melhor
Atriz. Descrita pelo
realizador George Cukor
como "uma atriz
consumada, prejudicada
pela beleza", Leigh teve
uma vida privada
conturbada. Sucumbiu à
tuberculose em 1967 e
faleceu aos 53 anos.