Falando de Cinema
O Bom, o Mau e o Vilão, 1966
Este é o
terceiro filme da “Trilogia dos Dólares”,
assim chamados depois dos dois primeiros ("A
Fistful of Dollars" e "For a Few Dollars
More"). Todos foram tremendamente populares
e, curiosamente, todos foram muito bons.
Isso é estranho, tendo em conta que foram
realizados com baixos orçamentos no sul de
Espanha. Os atores norte americanos, Clint
Eastwood, Lee Van Cleef e Eli Wallach, não
tinham grande sucesso nos EUA e a maioria
dos outros atores eram italianos ou
espanhóis desconhecidos, em grande parte
amadores, com os seus diálogos em inglês
dobrados.
No entanto, "The Good, the
Bad and the Ugly" e os seus dois
antecessores foram grandes sucessos durante
um período em que também muitos westerns
americanos foram um êxito. O seu segredo,
diz o crítico Roger Ebert, é a sua
compreensão do homem mau do Oeste:
misterioso, sem nome, absolutamente
implacável.
Baixo orçamento
Com baixo
orçamento, as filmagens realizaram-se em
Itália nos estúdios da Cinecittà, e no Sul
de Espanha numa área desértica próximo de
Almeria, com um aspeto visual muito idêntico
às zonas desérticas norte americanas. Foram
contratados figurantes italianos e
espanhóis, aparentemente escolhidos pela sua
aparência e não pela sua capacidade de
atuação. Os três filmes estão repletos de
grandes planos de rostos memoráveis, e não
se trata de figurantes de Hollywood com
bigodes espetados, mas de camponeses que
trabalharam ao sol toda a vida e que no dia
seguinte voltarão ao seu trabalho. A maior
parte deles – como o mendigo sem pernas ou
as testemunhas dos enforcamentos – povoam
cenas de apenas alguns minutos. No entanto,
fornecem a atmosfera, como aquelas pessoas
estranhas que pairam nas sombras dos
romances de Dickens, e quando o mendigo sem
pernas, rasteja até ao bar e diz: "Passa-me
um whisky", é o tipo de pormenor macabro
impensável em Hollywood.
"O Bom, o
Mau e o Vilão" tem apenas o mais fino dos
enredos: Três indivíduos da péssima
reputação andam à procura de um carregamento
de ouro durante a Guerra Civil. Mas o enredo
pouco importa, porque o método do realizador
Sergio Leone é criar uma série de cenas
curtas e autónomas. Há algumas cenas
memoráveis, como quando Wallach encontra uma
carroça com homens moribundos e mortos no
deserto ou quando dois homens contratam Van
Cleef para assassinar um e outro, e ele
assim o faz.
Há uma bela cena em que
o estilo de Leone parece seguir o de
Hitchcock. Eastwood é mostrado no seu quarto
de hotel, desmontando o seu revólver para o
limpar. Canhões puxados por cavalos estão a
passar pela rua poeirenta. O som da rua
quase que se sobrepõe ao tilintar das
esporas de três assassinos contratados, que
sobem as escadas para o quarto de Eastwood.
Leone corta para trás e para a frente: as
esporas, os canhões, a arma de Eastwood a
ser montada de novo. Depois, liberta o
suspense com um timing de fração de segundo.
Tal como Hitchcock, termina a cena com uma
irónica e inesperada reviravolta.
Il buono, il brutto, il cattivo (Trailer)
Sergio Leone, 1966
Banda sonora influente
A música do filme
é de Ennio Morricone, que criou uma
sonoridade bem definida dos novos
Westerns, o género norte americano por
excelência que foi totalmente desconstruído
pelo génio cinematográfico de Sergio Leone e
seus colaboradores. Morricone compôs mais de
400 partituras para cinema e televisão. A
banda sonora de O Bom, o Mau e o Vilão
é considerada uma das mais influentes da
história do cinema e foi premiada no
Grammy Hall of Fame. A filmografia de
Morricone inclui mais de 70 filmes
premiados: desde filmes de Sergio Leone aos
de Giuseppe Tornatore incluindo o premiado
Cinema Paradiso.
Sergio
Leone foi um realizador de visão e ambição
sem limites, que se inventou a si próprio,
como inventou o western spaghetti.
Leone, contratado como assistente de
realização na produção italiana de Robert
Aldrich de 'Sodoma e Gomorra' (1962), apesar
de ter sido despedido ao fim de apenas um
dia", seguiu em frente, realizando um épico
– já esquecido – do Império Romano em 1961,
e depois pegou numa história de um filme de
samurais de Akira Kurosawa "Yojimbo" e fez
"A Fistful of Dollars" de tal forma que
reinventou um género cinematográfico que já
mostrava algum desgaste e que encheu salas
de cinema em todo o mundo durante um década.
Sergio Leone, Realizador
Nasceu em Roma em 1929,
filho de um antigo
industrial do cinema,
ficou conhecido
mundialmente por
popularizar o género do
western spaghetti.
Começou com dezoito anos
como assistente de
direção em filmes de
cineastas como Vittorio
De Sica, Luigi Comencini
e Mervyn LeRoy, mas foi
só em 1960 que se
estreou na realização
com O Colosso de
Rodes. Em 1964
realiza o antológico
“Por um punhado de
dólares”, tendo como
protagonista, Clint
Eastwood. O filme teria
duas sequências com o
mesmo ator, formando a
chamada trilogia dos
dólares. Em 1969, já
consagrado
internacionalmente,
finalizaria o seu
projeto mais ambicioso
até então, com o filme
Once Upon a Time in
the West. Em 1984
realizaria o seu último
grande filme Once
Upon a Time in America
com Robert de Niro,
James Woods e Joe Pesci
entre outros. Faleceu em
1989.