Falando de Cinema

The Hurt Locker, 2008

Com guião do repórter Mark Boal, The Hurt Locker, de Kathryn Bigelow, conta a história de uma equipa de três homens dos EUA que se dedicam à eliminação de bombas durante a Guerra do Iraque. O filme foi filmado na Síria, perto da fronteira com o Iraque. Foram utilizadas quatro câmaras de mão para dar um efeito plausível de telejornal, num total de 200 horas de filmagens que foram editadas para apenas 131 minutos. O filme foi elogiado por retratar uma experiência de guerra visceralmente intensa e real, embora os detractores tenham criticado a falta de uma posição moral. Bigelow pouco ou nada comenta sobre o objetivo da guerra; em vez disso, concentra-se de forma estreita e simpática nos dilemas e estados mentais das três personagens principais. Ao fazê-lo, cria de facto um filme anti-guerra mais poderoso do que outros.

The Hurt Locker (trailer)
Kathryn Bigelow, 2008

Viciado em guerra

The Hurt Locker começa com uma citação do jornalista norte-americano Chris Hedges do seu livro War is a Force That Gives Us Meaning: "A adrenalina da batalha é um vício potente e muitas vezes letal, pois a guerra é uma droga". The Hurt Locker mostra como este vício afecta a psique humana. A narrativa segue os três homens ao longo do seu ano de serviço, enquanto lidam com bombas por explodir, atiradores furtivos e civis usados como transportadores de bombas. O seu comandante é o sargento William James (Jeremy Renner), um rebelde endurecido pela guerra. A sua equipa, o Sargento Sanborn (Anthony Mackie) e o Especialista Owen Eldridge (Brian Geraghty), ficam tão preocupados com a imprudência de James quando ele age sem esperar pelo robô de eliminação de bombas e sem usar o seu fato protetor, que discutem matá-lo antes que ele faça explodir os três. Mas, curiosamente, também parecem admirar a sua loucura e compreender o que a motiva. A adrenalina do seu desejo de morte fá-lo sentir-se vivo. Depois de uma tentativa falhada de retirar um colete de bomba a um civil iraquiano, Sanborn começa a desestabilizar-se psicologicamente, admitindo que não consegue lidar com o stress. Uma vez em casa, nos EUA, James, por outro lado, não consegue lidar com a vida real. Sente que o seu objetivo era estar na zona de conflito, onde o perigo perpétuo dava sentido à sua vida.

O filme foi alvo de críticas por se centrar numa unidade de desativação de bombas: soldados sem o preocupante dever de matar ninguém no ecrã. A maioria, no entanto, elogiou o facto de Bigelow ter conseguido colocar o espectador dentro do "armário dos feridos" – uma prisão psicológica de dor que resulta do facto de estar constantemente perto de explosões.

Kathryn Ann Bigelow, Realizadora.
Cineasta norte-americana, nascida em novembro de 1951. Recebeu dois Oscars, dois BAFTA Awards e um Primetime Emmy Award. A revista Time nomeou-a uma das 100 pessoas mais influentes do mundo em 2010. Bigelow estreou-se na realização com o filme The Loveless (1981). Com drama de guerra The Hurt Locker (2008), Bigelow tornou-se a primeira mulher a ganhar o Óscar de Melhor Realizador.
Dirigiu episódios da série da NBC Homicide: Life on the Street (1998-1999), da NBC, e ganhou o prémio Primetime Emmy de Mérito Excecional em Documentário pelo seu trabalho no filme Cartel Land (2015), da Netflix.